O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

domingo, 22 de agosto de 2010

Sandra Gomide: in memorian


Sandra Gomide: in memorian


Por Rui Martins (*)

Meu artigo sobre mulheres apedrejadas no Irã e arredores desagradou muitos amigos. Este aqui vai me arranjar inimigos. Me inspirei num comentário bem inteligente de um leitor no blog do Nassif. O de que o Irã, em revanche às críticas feitas no Brasil, poderia pedir para se processar o Brasil pelo assassinato a tiros da jornalista Sandra Gomide, pois o crime ficou sem punição para o culpado, mesmo sendo confesso e tendo sido julgado.

E seria mesmo uma boa se o Irã fizesse isso, deixo aí a idéia para os colegas correspondentes do Irã em Brasília publicarem em seus jornais, em Teerã, qualquer coisa como – Brasil se mete na história da Sakineh, mas no Brasil faz dez anos que mataram a tiros Sandra Gomide sem qualquer condenação. E poderão acrescentar que para mulheres infiéis existe no Brasil o chamado crime de honra ou passional, só que os brasileiros são muito mais clean, não enterram a infiel para jogar pedras. Pode-se dar um ou dois tiros, até pelas costas.

O site Jornalistas & Cia, citado pelo Portal da Imprensa, publicou nesta semana um excelente documento de investigação sobre os dez anos do assassinato de Sandra Gomide pelo ex-diretor do jornal O Estado de São Paulo, Pimenta das Neves, e cita um ótimo livro sobre o caso, O Vôo da Rainha, do jornalista e escritor argentino Thomás Eloy Martínez, tratando da soberda e da prepotência do autor do crime. Extraordinário livro, no qual Eloy Martínez, falecido em fevereiro deste ano, dá corpo literário ao drama.

Você lê o documento do Jornalistas & Cia. e tem a mesma reação do pai da moça, o senhor João Gomide - « não há justiça neste país ». Mas até quando eu, você, seus vizinhos, seus amigos, nós todos, vamos dizer e ver isso provado, sem que nada se faça para mudar ? Será que somos um país de carneiros, de paspalhos, de castrados, de babacas, de palhaços ?

Até quando vamos aceitar que a Justiça brasileira seja essa zorra ? Ninguém percebe que se isso continuar assim, vai virar uma esculhambação – prisão para o povo e liberdade para tudo quanto é bandido, desde que tenha grana suficiente para azeitar onde for necessário e utilizar os mil e um recursos para driblar esse simulacro de justiça ?

Vejam bem, no caso da Sandra Gomide, o culpado confessou, foi julgado e condenado, mas obteve do Supremo Tribunal Federal uma liminar lhe permitindo aguardar em liberdade um recurso contra o julgamento. E se o STF deixar o tempo correr, como está fazendo, quando decidir, haverá outro recurso, o de que Pimenta Neves estará velho e doente para ser levado à prisão, que, diga-se de passagem, será em cela especial e não com presos comuns.

Enquanto isso, o pai e mãe de Sandra Gomide têm um vida amargurada, sofrem, adoecem, vendo nada ser feito contra o assassino de sua filha. Mas o que isso importa ? São pobres, gente do povo, não fazem parte da elite inatacável, que se danem.

Faz oito anos, um tal de Paulo Roberto de Andrade passou um conto do vigário em mais de 30 mil pessoas com seu Boi Gordo, uma grande parte do dinheiro dos investidores desapareceu em Miami, e o Conafi não quis saber e nem se interessou, e a justiça eliminou qualquer possibilidade de processo penal, mesmo se o caso envolveu mais de três bilhões de reais. Um advogado, Almeida Paiva, se levantou contra o enganador, mas nada pôde fazer contra a lentidão da justiça e morreu, no começo do ano, descrente e amargurado, sem ter conseguido seu objetivo.

Na Suíça, o procurador de Genebra aguarda uma condenação de Paulo Maluf no Brasil em última instância, ou seja pelo mesmo STF, para poder enviar a São Paulo o dinheiro que ficou bloqueado nos bancos, embora uma parte tenha sido desviada para a Ilha de Jersey. O bloqueio de contas por suspeita de fraude ou corrupção vale por dez anos, não havendo condenação nesse tempo, o bloqueio é levantado e o dinheiro pode ser de novo movimentado. Já transcorreram sete anos anos, faltam só mais três e, com certeza, Maluf reaverá seus bens por falta de condenação.

Cito esses dois casos, e mais um, no sentido inverso – essa mesma Justiça que faz vista grossa para os ricos e abonados, é capaz de brigar para punir contestadores. Durante meses e meses, batalhamos em favor do italiano Cesare Battisti, ameaçado de extradição por ter sido militante esquerdista e acusado de crimes que não cometeu. Ora, para Cesare Battisti o STF quer punição, porque se trata de um pé de chinelo que ousou, no seu país, denunciar e lutar contra uma sociedade injusta.

E tem mais – Battisti teve refúgio concedido pelo ministro da Justiça da época, Tarso Genro, há quase dois anos, mas o STF fez de tudo para impedir sua liberdade. Battisti, está preso até hoje, para ele não há liberdade condicional, nem habeas-corpus, ele é povo, é representante dos que lutam para haver realmente justiça. E como é época eleitoral, a decisão salvadora da presidência ficará para depois das eleições, para não desviar votos.

Senhor João Gomide, o senhor tem toda razão, não há mesmo justiça no Brasil, virou zorra, é uma lástima mas é a realidade.

*Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e com o blog "Quem tem medo do Lula?"

O dom de irradiar esperança - JK, Lula e a imprensa


Hoje é 22 de Agosto de 2010 e há exatos 34 anos morria Juscelino Kubitschek de Oliveira. Considerado por muitos o melhor presidente que este país já teve, eu o coloco como um dos três melhores: há que dividir as glórias com Getúlio Vargas e, sim, com Luís Inácio Lula da Silva. Cada um importante em sua época e deixando um legado para as gerações seguintes. Cada um ao seu jeito, guardando, porém, duas coisas cruciais em comum: a visão futura e, claro, o profundo amor pelo Brasil. Aproveitando a data, reproduzo hoje aqui uma crônica que escrevi em Junho de 2009, analisando a relação da imprensa com JK e com Lula, e traçando um paralelo entre a figura humana de ambos. Pela temática política especial, dediquei-a e dedico-a ao meu amigo Gilson Caroni Filho. A quem tive o prazer de conhecer em bancos universitários e encho a boca pra dizer que será eternamente o meu mestre. Assim, faço jus a quem irradiou em mim o gosto por analisar a mídia e o encantamento pelas ciências políticas. Segue a crônica:
O dom de irradiar esperança - JK, Lula e a imprensa

Por Ana Helena Tavares (*)
Inúmeras já foram as vezes que Lula se comparou a JK. "Não acredito em quem não tem objetivos, não tem projetos, não sonha alto. Eu acredito em gente como Juscelino", declarou Lula a Claudio Bojunga para o livro "JK - O Artista do Impossível".

Incontáveis são as vezes que Lula é atacado por conta desta comparação. “Quando vejo o Lula se comparar com Deus, todo poderoso, não me importo. Quando o vejo se comparar a Getúlio Vargas, também não dou muita importância. Mas eu realmente saio do sério quando vejo o apedeuta (ignorante, pessoa sem instrução) querer se comparar ao JK.”, já chegaram a dizer em um dos milhões de blogs espalhados pela rede. Ora, por que esta comparação tira tanta gente do sério? Será então porque JK era médico e Lula largou cedo os estudos regulares? Francamente! Como são apedeutas os que pensam assim! Principalmente aqueles que gostam de se colocar na posição de “deuses”, acima dos “meros mortais”, usando palavras como “apedeuta” e achando que é isso que vai mostrar alguma coisa nessa vida. Senão vejamos... Os EUA que o digam... George Bush ostenta diploma de historiador (vejam isso...) e Abraham Lincoln (considerado um dos maiores presidentes dos EUA) jamais cursou escolas regulares. Será que restam dúvidas de que não é isso que influencia?

Que a ascensão à presidência de uma pessoa como Lula incomoda a muitos, nós sabemos. Só o fato de aquele retirante estar lá no Planalto já enfurece muita gente, é de se entender que fiquem mais enfurecidos ainda quando aquele ousado retirante se compara ao “Dr. JK”. Só que JK ganhou a simpatia da história não porque se achava um “Dr.”, mas pelas vezes que sentou-se numa roda de violão cantando que o “peixe vivo não pode viver fora da água fria”. Explico-me: talvez ele não tenha sido uma figura de grande carisma em sua época, haja visto que foi certamente um dos presidentes mais surrados pela imprensa e é óbvio que isso levava uma fatia da opinião pública a atacá-lo também. Mas a história o acolheu, não só por todas as realizações de seu governo, mas acredito até que principalmente pela fantástica figura humana que ele era. Títulos como o de “Presidente Bossa Nova” não me deixam mentir. Fenômeno semelhante ocorre com Lula. Possivelmente, entre as classes mais baixas, Lula tenha um apelo carismático bem maior que o de JK, mas, de um modo geral, ele representa uma “bossa (coisa) nova”. Novidade boa pra quem pensa no futuro do país. Ameaça pras elites conservadoras e antiquadas. Assim era JK. Assim é Lula. Figuras humanas com o dom de irradiar esperança por onde passam. E isso dói nos olhos mais amargos.

Em 2008, durante comemoração pelos 106 anos de JK (caso estivesse vivo), Lula afirmou: “A história, como Deus escreve certo por linhas tortas, precisou de algumas décadas para fazer Justiça ao que representou Kubitschek para o nosso país". Como aconteceu com JK, restará à história o papel de relatar com fidelidade todos os avanços do governo Lula. E não tenho dúvida de que ela o fará. Isso porque a imprensa que, como me disse em entrevista o jornalista Alberto Dines, deveria ser sinônimo de “história instantânea”, infelizmente, tem jogado no lixo essa nobre função. Curioso e interessante contar que, pouco depois do encerramento de seu mandato como presidente da República, na noite de 21 de janeiro de 1961, JK foi recebido com toda pompa e circunstância na sede da ABI por aquela mesma imprensa que havia passado cinco anos bombardeando seu governo e seu caráter e que, naquela ocasião, oferecia em sua homenagem um farto banquete. Na “Revista Brasileira de História” há um vasto estudo sobre o assunto, realizado pela cientista política Flávia Biroli, intitulado “Liberdade de Imprensa: margens e definições para a democracia durante o governo de JK”. No estudo, verificamos que era uma relação problemática, porém, pacífica. Ou seja, se a imprensa criticava de forma tão dura é porque tinha liberdade pra isso. O título de uma das matérias que, na época, cobriu o evento ao qual JK foi à ABI dizia: “O adeus com mágoa de JK”. Ao mesmo tempo, porém, naquele final de governo, os jornalistas pareciam profundamente agradecidos por aqueles anos de liberdade. Sentimento resumido nas palavras de Herbert Moses, então presidente da ABI, que fez mea-culpa, assumindo excessos, exageros e injustiças da imprensa: “O governo Kubitschek não foi apenas um período de trabalho intenso, de dinamismo administrativo, de desenvolvimento apaixonado: foi também o governo em que a imprensa pôde usar mais livremente os seus direitos. A imprensa opinou livremente, informou livremente, criticou livremente. Muitas críticas teriam sido exageradas, muitas excessivas, muitas injustas, com certeza. Mas exageradas ou excessivas ou injustas, puderam ser formuladas, tiveram livre curso, não tiveram sanções.” Fico imaginando um banquete desses, ao final do governo Lula, e acho que, de ambos os lados, os sentimentos não se fariam diferentes. Lula tem uma centena de motivos totalmente palpáveis pra se dizer magoado com a imprensa. A imprensa, por sua vez, não tem um motivo sequer pra reclamar de Lula quanto a qualquer tipo de censura. Seria no mínimo interessante um banquete desses reunindo Civitas, Frias e Marinhos... Haja mea-culpa!

O grande mérito de quem é ofendido está em não perder a cabeça. Temos aí mais um ponto em comum entre os dois presidentes. Certa vez, Lula disse: “Poucos políticos foram tão achincalhados, tão agredidos verbalmente, tão ofendidos como Juscelino Kubitschek. Entretanto, esse homem nunca levantou a voz nem perdeu a responsabilidade com o país.” Quem não enxerga a responsabilidade de Lula com o Brasil, que o julga um aventureiro, oportunista, ou coisas do tipo, só pode ser cego. "Devemos seguir o exemplo de Juscelino Kubitschek, que soube transformar seus sonhos em conquistas e benefícios para o Brasil.", disse Lula em almoço oferecido ao primeiro-ministro da República Tcheca, em Março de 2006. Essas não são palavras ao vento. O espírito empreendedor de JK está sim presente no presidente Lula. Transformar sonhos em realidade faz parte de sua história de vida. É claro que com o seu governo não iria ser diferente.

Eu poderia listar aqui todo o sem número de avanços do governo Lula e comentar cada um deles, mas não é essa a proposta. Em meados do ano passado, ao comentar um deles, Lula, mais uma vez, lembrou-se de JK: "Juscelino Kubitschek, lá de cima, estará rindo pelo que está acontecendo com a indústria naval brasileira.” Arrisco-me a dizer que ele está rindo à toa desde janeiro de 2003.

Não vivemos no país dos sonhos? É claro que não! Mas a enorme confiança que Lula gerou no povo, apesar de a imprensa não cumprir satisfatoriamente seu papel de bem informar, além de tornar visíveis as inúmeras realizações de seu governo, mostra que nenhum outro presidente representou tão bem quanto ele um dos lemas que JK repetia com mais fervor: "Política para mim é esperança".

Por isso, se eu pudesse falar com Lula, diria: Eu também "não acredito em quem não tem objetivos, não tem projetos, não sonha alto.” Eu acredito em gente como você!

P.S. Herbert Moses dizia-se agradecido por aqueles anos em que o governo não havia censurado nenhuma das tantas críticas tão negativas feitas pela imprensa. Muitas injustas, como ele próprio assumiu, tecendo suas desculpas públicas a JK. O problema é quando, na hora de elogiar, a grande imprensa, vendida a interesses mesquinhos, censura-se a si mesma. Periga ter que pedir desculpas à liberdade sem a qual ela não vive e a qual ela própria tolhe. Aí é crise de identidade. Talvez já acontecesse também naquela época...

11 de Junho de 2009,

Ana Helena Tavares, jornalista por paixão, escritora e poeta eternamente aprendiz. Editora-chefe do blog "Quem tem medo do Lula?".

Leia também de minha autoria: "Cabelo fixo a Gardel: com vocês, JK"

Cardozo discursa na reunião do Foro de São Paulo e destaca eleições no Brasil

O secretário-geral nacional do PT, deputado federal José Eduardo Cardozo, discursou durante o XVI Encontro do Foro de São Paulo em nome da direção do partido. Ele enfatizou o atual momento político vivido pelo Brasil e a mobilização em torno da sucessão presidencial para consolidar a vitória da candidata Dilma Rousseff.

Leia abaixo a íntegra da fala de Cardozo na assembléia do FSP:

Discurso do secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, José Eduardo Cardoso, na reunião do Foro de São Paulo


Buenos Aires, agosto de 2010

Companheiras e Companheiros.



Em primeiro lugar quero trazer-lhes a saudação fraterna e combativa da Direção Nacional de meu partido – o Partido dos Trabalhadores.

O PT, junto com o Partido Comunista do Brasil e o Partido Socialista Brasileiro, membros do Foro de São Paulo, e outros partidos estamos mobilizados, neste momento, para a eleição de nossa companheira Dilma Rousseff à sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência do Brasil.

Vamos dar continuidade à grande transformação pela qual vem passando o Brasil desde 2003.

O Brasil mudou e vai continuar mudando.

Meu país retomou o crescimento econômico, depois de um longo período de estagnação. Os dados a respeito estão na mensagem encaminhada pelo presidente Lula, que registra que foi um crescimento econômico diferente, pois se fez com forte distribuição de renda. Em oito anos foram criados 14 milhões de empregos formais. Mais de trinta milhões de homens e mulheres deixaram a situação de miséria ou de pobreza e acederam à classe média.

Conseguimos controlar a inflação e diminuir consideravelmente a dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto.

Reduzimos nossa vulnerabilidade externa. O Brasil não mais depende do FMI e passou da condição de devedor à de credor internacional.

Conseqüência importante de nossa política econômica foi a formação de um grande mercado popular de bens de consumo, que deu especial dinamismo a nossa economia. Graças a ele, o Brasil foi um dos últimos países a serem atingidos pela crise econômica mundial e um dos primeiros a dela sair.

Todas essas mudanças foram feitas em um clima de expansão da democracia. Há no Brasil a mais absoluta liberdade de imprensa e de opinião.

A sociedade, e os movimentos sociais em particular, tem tido intensa participação na formulação de políticas públicas por meio de dezenas de Conferências Nacionais.

O Governo do Companheiro Lula desenvolveu uma política externa soberana e ativa. Privilegiamos a integração sulamericana e latinoamericana e uma aliança com os países do Sul do mundo, especialmente com os da África, com a China e com a Índia. O Brasil manteve nos foros internacionais – OMC, ONU e no G20 – uma atitude de busca da paz, defesa dos Direitos Humanos e de construção de um mundo menos desigual e regido pelos princípios do multilateralismo.

Queremos especialmente uma América Latina e um Caribe integrados econômica e politicamente. Uma zona de paz, onde os conflitos possam ser resolvidos pelo diálogo e pela negociação.

Nesse sentido, saudamos o restabelecimento de relações entre Venezuela e Colômbia. Sabemos que o longo período de insurgência que afeta nossa irmã Colômbia não é só um problema interno daquele país. Ele tem repercussões na situação política de toda a região.

Respeitamos a auto-determinação da Colômbia, mas queremos explicitar a disposição de meu partido – que sei ser a de todas forças progressistas da região - de poder colaborar para a paz neste país irmão. É chegada a hora de cessar as ações armadas, que trazem tanto dano à população colombiana e golpeiam fortemente a própria esquerda daquele país.

Companheiros e companheiras,

Quando nos reunimos pela primeira vez, em julho de 1990, em São Paulo, a situação mundial e de nosso continente era radicalmente distinta da que temos hoje.

Na América Latina ainda nos recuperávamos da longa noite das ditaduras militares. Transições incompletas dificultavam a consolidação da democracia política. Os avanços em matéria de democracia econômica e social eram menores ainda.

Vivíamos sob a tutela do CONSENSO DE WASHINGTON. Suas propostas conservadoras buscaram combater a inflação e todos os desequilíbrios macroeconômicos com medidas que, no entanto, aumentavam o desemprego e a precariedade das condições de trabalho, reduziam a renda dos trabalhadores, debilitavam o Estado fomentando privatizações selvagens, na esperança que o todo-poderoso mercado resolvesse os graves problemas que vínhamos enfrentando.

Engano.

A agenda neoliberal não permitiu retomar o desenvolvimento, como prometia. Ao contrário. Deixou a região mais pobre e mais desigual. Desindustrializou nossos países. Fomentou uma contra-reforma agrária. Aumentou nossa dependência. Pior que isso: os conservadores não foram capazes sequer de resolver o problema que consideravam prioritário – o da inflação e o do desequilíbrio fiscal.

Este país – nossa querida irmã Argentina – foi palco do maior fracasso dessas políticas. Entre 2001-2002, ruiu o plano de convertibilidade que produzira a ficção monetáriacambial que todos conhecemos, arrastando o país para uma crise de proporções inimagináveis.

Foi a coragem e a lucidez da sociedade argentina, especialmente de seus trabalhadores, que permitiu a este grande país retomar o caminho do crescimento e da justiça social que vive até hoje.



Mas as políticas conservadoras não caíram por si próprias.

Elas foram derrotadas pela ação dos movimentos sociais e dos partidos progressistas, grande parte dos quais integram o Foro de São Paulo.

Aqueles que por anos – por décadas! – estivemos na oposição, soubemos construir propostas democráticas que ganharam corações e mentes das grandes massas, abrindo o caminho para governarmos a maior parte dos países da América do Sul e outros tantos da América Latina e do Caribe.



Mas nos anos noventa vivíamos também uma outra crise. A crise das idéias e das políticas de esquerda.

A queda do Muro de Berlim, antes de nossa primeira reunião, e a dissolução da União Soviética, pouco tempo depois, marcavam o fim de uma era.

Da mesma forma, os descaminhos das experiências socialdemocratas na Europa naquele período, estreitavam o leque de oportunidades das esquerdas.

É verdade que muitos de nossos partidos já tínhamos um olhar crítico sobre essas duas matrizes desde algum tempo.

Mas essa constatação não bastava. Era necessário - e continua sendo – realizar um esforço intelectual e político para repensar nossa realidade e nossos valores. Mudar, sem mudar de lado.

Estou convencido que nas experiências de Governo que estamos levando adiante em nossos países já estão presentes os resultados de nossas reflexões sobre a realidade de nossos países. E estão presentes também indicações para continuar avançando.

Essa renovação política é visível também nos avanços que logramos nos processos de integração continental: a Unasul, o Banco do Sul, o Conselho de Defesa Sul-Americano, a Alba e a Comunidade Latinoamericana e Caribenha (CALC) são prova disso. Essas conquistas não teriam ocorrido se não houvesse um importante número de Governos progressistas na região.



Mas temos ainda muitas tarefas pendentes.

Dentre elas a de deixar para as próximas gerações um pensamento político progressista e de esquerda renovado. Um pensamento que não seja apenas, nem principalmente, uma reflexão feita à margem das lutas sociais.

Nesta reflexão devem ocupar um lugar central os temas da busca da igualdade social, da afirmação da soberania nacional (e regional) e do compromisso irrestrito com a democracia.

América Latina talvez seja uma das regiões que tenha o maior potencial econômico do planeta, podendo vir a constituir-se em um pólo importante do novo mundo que está nascendo. Mas é também a região mais desigual socialmente. Esse problema não é um “detalhe”. Ele deve estar no centro de nosso pensamento e de nossa ação política. Toda política econômica realmente progressista deve ter como preocupação central a redução das desigualdades e a inclusão social dos milhões que se encontram à margem de nossas sociedades e a criação de oportunidades – de trabalho, educação e cultura – para aqueles que criam a riqueza de nossas nações.

A soberania nacional é inseparável da soberania popular e é compatível com a solidariedade e a integração regionais. Em nome de uma globalização que ninguém nega, não podemos renunciar ao direito de decidir sobre nossos destinos nacionais. A soberania nacional é o primeiro passo para uma integração real de nossos povos sem hegemonismos.

Finalmente, não podemos transigir em relação à defesa e aprofundamento da democracia. Não podemos deixar essa bandeira preciosa na mão daqueles que não têm nenhum compromisso com ela, como o passado nos mostrou. Queremos uma democracia vigorosa. Com eleições livres. Com efetiva liberdade de imprensa e de opinião. Com forte participação popular. A democracia não merece adjetivos. Ela deve ser para nós um modo de vida, uma forma de luta e um objetivo a ser permanentemente alcançado e renovado.



Quero reiterar a saudação do PT a esta reunião do Foro de São Paulo.

O grande Carlos Gardel cantou que “veinte años no es nada”.

E não é nada mesmo. Aqui estamos – renovados e vitoriosos, por certo – mas com a mesma “febril mirada” com que olhamos nossa América em julho de 1990, em São Paulo e nos dispusemos mudá-la.

Obrigado.

FOTE: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/institucional-3/cardozo-discursa-na-reuniao-do-foro-de-sao-paulo-e-destaca-eleicoes-no-brasil-16401.html

Depois do Serra "comedor", eis o Serra pulador...



Pode haver um ser mais sem-noção do que este homem? Simplesmente ridículo e vergonhoso. O desespero é uma coisa muito triste.

Ainda o editorial da Folha: sinal de decadência de um modelo de manipulação midiática

Serra e Folha: Decadência de um modelo de manipulação midiática

Por Idelber Avelar*, em seu blog
"O Biscoito Fino e a Massa"

Há algumas diferenças entre a campanha presidencial de 2006 e a deste ano, e uma das mais notáveis é a perda de influência dos setores da mídia que apostaram numa compreensão unilateral da informação. Esse (des)entendimento da informação como uma avenida de mão única é parte da explicação do colapso da candidatura de José Serra e do baile sociológico-estatístico sofrido por um de seus suportes, o DataFolha. Eles apostaram no mundo velho.

Desde o princípio, a candidatura de Serra optou por um modelo de relação com a informação: a opção pela compra da boa vontade dos oligopólios de mídia com contratos públicos em São Paulo, a truculência na direção da TV Cultura e a forte tendência autoritária, censora, de ligar para redações pedindo cabeça de jornalista ou de reagir agressivamente a qualquer pergunta indócil, questionadora. Essa tendência se manifestava tão mais claramente justo quando o Sr. Serra e a direita brasileira insistiam que o governo federal “censura” a mídia, como se não soubéssemos o que a imprensa brasileira publica sobre o Presidente Lula.

Superestimando o poder dos conglomerados máfio-midiáticos do país, Serra apostou neles as suas fichas e perdeu. Foi mais um de seus muitos erros, numa lista que inclui a sucessão de trapalhadas na escolha de um Vice que ele nunca vira, a modorrenta e ególatra espera à qual submeteu a si e seus correligionários antes de se candidatar, a ingênua ideia de que poderia dar xeque-mate em Aécio simplesmente esperando sentado em sua cauda de pavão, o privilégio ao método de bastidores, conchavos e guilhotina em vez do embate de peito aberto na pólis. Não são esses, no entanto, os motivos de sua derrota, como sabe qualquer interessado em política brasileira que não viva em Marte. O motivo básico de sua derrota é só um: o povo quer continuar o governo Lula e quem continua o governo Lula, segundo o próprio, é a Dilma. Assim de simples.

Por isso, é de uma desfaçatez inominável que a Folha faça um editorial de cônjuge traído, chilique de cornudo(a) que se sente abandonado(a) pelo seu candidato, o mesmo que a Folha teimosamente insiste em não endossar em editorial. Lendo a Folha de hoje, não há como não fazer a pergunta: como é possível que ela não soubesse que essa seria a estratégia, que esses “erros” de Serra, afinal de contas, não são simples erros, mas consequências necessárias da própria concepção de política de Serra nos últimos tempos? Descobriram agora que ele é autoritário, não ouve ninguém, adora conchavos e tem tendência ao autismo político? Onde estiveram nos últimos vinte anos em que lhe ofereceram apoio, editorialistas da Folha? Ou vocês não enxergaram antes porque estavam lá nos bastidores dos conchavos também? Que tal agora descobrir que Serra tem uma política de comunicação baseada no unilateralismo, na troca de favores com os oligopólios e com a distorção mentirosamente neutra da informação? Que tal, por exemplo, fazer uma investigação e revelar como é possível que três funcionários ou membros do PSDB sejam "sorteados" para fazer perguntas num debate aí na sua própria cozinha, Folha? Que tal avançar nas descobertas, Folha?

A Folha não pode dizer claramente que os “erros” de Serra não foram “erros”, mas consequência lógica e inevitável de uma concepção de política. Afinal de contas, essa foi a concepção na qual a Folha apostou também, a da fabricação de escândalos, falsificação de documentos, a mentira pura e simples e a blindagem vergonhosa em volta do Sr. Serra (ao ponto de jamais terem publicado, por exemplo, jornalismo real sobre os escabrosos negócios da Educação em São Paulo).

Superestimando seu próprio poder, usando um instituto de pesquisa para fazer politicagem e reagindo de forma autista a uma realidade que ainda parece incapaz de entender, o Grupo Folha é o mais siamês parceiro de derrota de José Serra, o candidato que agora zanza como um zumbi vampiresco pelas madrugadas da internet, desdizendo hoje o que disse ontem.

Que o Grupo Folha tenha a dignidade de fazer a autocrítica dessas escolhas antes do mergulho final na irrelevância.

*Idelber Avelar é jornalista e professor. Clique aqui para conhecer o seu excelente blog.
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